Presente de um fã-amigo. Resenha do álbum por Márcio Ribeiro
Nessa semana recebemos um presente de um grande fã e amigo da banda, Márcio Ribeiro, mais conhecido como Thor. Ele escreveu uma resenha sobre o nosso primeiro disco "Nuvens" e nos enviou! Com a autorização dele postamos aqui!! Confiram as belas palavras que nos trazem muita alegria!!
Thor, um obrigado das Nuvens!! todas elas!!
"quando minhas mãos tocam em você"
Por Márcio Pereira Ribeiro
Mas o que quer dizer este poema? - perguntou-me alarmada a boa senhora.
E o que quer dizer uma nuvem? - respondi triunfante.
Uma nuvem - disse ela - umas vezes quer dizer chuva, outras vezes bom tempo...
Mário Quintana
Se todas as esperas na vida fossem recompensadas com a beleza de um primeiro momento...
Aquela sensação de que uma pequena parcela de uma grande expectativa foi nos recompensada por uma verdadeira prova de que existem maneiras, sim, de se fazer arte de qualidade sem extrapolar o comprometimento do que, na verdade deveria ser a viés de qualquer artista: criatividade, bom gosto, inovação e sentimentalismo. E qual não me foi a surpresa, quando no meio de tantas informações que permeiam a Grande Rede, encontrei uma banda curitibana, que dentro de um parâmetro de muita qualidade sonora e de uma busca por inovação no que eu vinha escutando, descobri O Som das Nuvens e, como que num lampejo de espanto, dei por conta de que ali havia uma intenção muito interessante em se fazer arte, e por alguns meses pus-me a acompanhar às gravações bem à distância - como bom curitibano, com sangue mineiro, que sou.
Eis que me chega a notícia de que a obra de arte estava pronta, como quando na verdade, é sabido que estas são inacabáveis, e sim, como na concepção de todos os artistas: abandonadas para seguir o seu caminho. Chega um ponto em que se torna humanamente impossível continuar a esmerilhar, a trabalhar uma jóia – corre-se até o risco de estragá-la com tanto zelo (amor demais às vezes sufoca!).
Agora com o álbum branco (assim batizado por mim, numa referência ao White Álbum dos garotos de Liverpool – referência sonora pra mim, e pra ¾ do Ocidente) em mãos...Eis minhas impressões sobre a obra. Espero estar à altura de tal façanha. Façamos faixa a faixa, assim (quem sabe) o deleite seja-nos mais prazeroso... Hora de apertar o play e curtir o som, pois.
“despertar” faixa instrumental que abre o álbum, conta com sons percussivos de contrabaixo e percussão que remetem à dança de capoeira; há também melodias de guitarra e teclado formando um interessante contraponto.Na minha opinião, servirá de ótima faixa de abertura nas apresentações da banda. Serve ainda, de introdução para a música seguinte “os dois lados de dentro da mesma janela”, que num clima com progressões análogas à música feita no nordeste brasileiro trás pela primeira vez a voz doce e tranqüila de Raphael Moraes cantando versos ultra-românticos a algum ser lírico, que durante toda a obra será alvo de questionamentos e apresentar-se-a mais ao expectador.Preste atenção ao clima de descontração e alegria presentes no álbum, a começar aos 2min44 desta canção A próxima faixa “mudança de estação”, com cara de hit radiofônico trás um lindíssimo arranjo de violinos e novamente nas letras há uma evocação ao objeto lírico. São notáveis a linearidade das letras compostas por Raphael e o casamento perfeito com a harmonia da parte instrumental – ambas, como que numa simbiose perfeita, fazem-nos ter a sensação de que aqueles versos somente poderiam ser embalados por aquelas exatas melodias – isto não é fácil de se conseguir, pode acreditar. Estamos na terceira faixa e você deve estar se (me) perguntando sobre os riffs e solos de guitarra arrasadores, afinal trata-se de um disco de rock n´roll, certo? Quase certo. O que há aqui são nuances sonoros, permeados por lindíssimas melodias. A técnica serve estritamente às composições, e há notadamente um grande trabalho para que todas as faixas soem o mais bonitas e intensas possíveis! Duvido que a melodia do violino tocado por Íris knopfholz não grudou no seu ouvido; vai fundo! Pode assobiar - eu já fiz isso muitas vezes desde que a escutei...
Quarta faixa: “a redenção da bicicleta” abre com lindos versos: “quando minhas mãos tocam em você / é como tocar o céu, mas com os pés no chão”. Sonho de Ícaro? Não, isso é Nuvens, literalmente! “entre sonhos e poros “tem uma linda melodia de contrabaixo na introdução. E uma imensa tristeza nos seus versos. Preste atenção ao casamento químico entre bateria e contrabaixo, juntos formam uma nuance sonora muito interessante. Não posso esquecer de comentar as palmas no final desta canção, fazem tudo entrar num clima de descontração muito acalorada e quem já a ouviu ao vivo, sabe o que estou dizendo...”tom zen“ conta com lindos acordes de violão e condução no contrabaixo, somados a interessantes melodias vocais. O que dizer das melodias circenses de César Nova, um ar arlequinal presente aqui. Já imaginou uma versão acústica? Embalaria qualquer lual praiano. Interessantes trocadilhos verbais. Um tom intimista – tão zen! Sétima faixa, e eu aqui espantado pela originalidade de cada canção, com a escolha singular de timbres das guitarras e teclados:“ritos de passagem” tem o mais belíssimo refrão, daqueles que nos dão um novo ar de esperanças. Raphael Moraes aparece com belas melodias executadas com o auxílio de um ebow, algo meio como nos efeitos hendrixianos em Are you experienced. ”pedaços de boas lembranças” abre com efeitos muito envolventes de guitarra; experimente escutar esta faixa com fones de ouvido. Um contrabaixo fretlles dá o tom macio da melodia dos vocais. Novamente os trocadilhos verbais de muito bom gosto confundem nossos sentidos. Atente para o belíssimo solo de guitarra executado por Amandio Galvão: sutil e inspirado demais. ”vida de festim” é a canção mais rockeira do álbum. Novamente Raphael surpreende logo na introdução com uma levada à
E por falar em percussão de qualidade: em “jovens tragédias” o Cajon de Marcus Pereira abre a segunda faixa rockeira do álbum. O que dizer da levada pesada conduzida por Raphael?! Ainda nesta faixa, ele e Amandio impressionam em um solo de muita técnica apurada, num duelo de perguntas e respostas! E fica-nos a sensação de que os versos trazem-nos à realidade urbana que nos devora com seu acinzentamento e desvalores, transformando-nos em seres melancólicos e muito idênticos em nossos viveres. Fique esperto pra não se perder em minhas divagações, vamos apurar-nos com as inversões poéticas dos versos e os slides perfeitos de Amandio em “palmas pro pecado”. Gostei muito do interlúdio antes do solo e dos backing vocals também. César Nova mostra a que veio e fecha a faixa com chave de ouro num solo inspiradíssimo. Em “vozes”, faixa
O que impressiona, além da qualidade sonora, é a maturidade deste grupo, tanto por suas temáticas bastante universais, quanto da desenvoltura e criatividade na execução de suas canções. Que sem cair em barbarismos técnicos ou em temas pseudo-intelectuais envolve o expectador como que num mantra sônico de paz e amor.
Impressiona ainda o fato de este ser seu álbum de estréia, sem ter havido nenhum material previamente publicado.Acredito que a banda tenha deixado muito material de qualidade de fora deste. O que nos alegra, pois é possível vislumbrar um futuro longínquo e brilhante a estes tão criativos músicos!
Vida nova e inteligente ao rock nacional! Bem-vindos às Nuvens!
conheça mais sobre os textos de Márcio Ribeiro através do seu blog:
http://entrelinhasepontos.blogspot.com/
ouça o som das nuvens no www.myspace.com/osomdasnuvens
compre o disco nas lojas Fnac de todo o país ou pelo site www.fnac.com.br
Dia 25 de abril estaremos em SP na Fnac Paulista e 16 de maio no Teatro Guairinha!!
Aguardem!!
boas energias a todos